Gatos amam loucamente

Entre um pãozinho e outroEu sei que o Bilbo me ama porque quando eu chego ele se atira em cima de mim e lambe minha cara até a lente de contato escapar do olho. Sei que meu cachorro me adora porque quando eu não estou em casa ele sai catando meus sapatos, meias e sutiãs, amontoa tudo na cama dele e deita em cima, e se isso não é Transtorno Obsessivo Compulsivo, deve ser saudade. Cachorros têm um jeito tão direto e descontrolado de demonstrar afeto que ninguém fica em dúvida de que ganhou o coração canino.

Já os gatos são finos e elegantes e não curtem todo esse escancaramento emocional. Se os felinos fossem uma Spice Girl seriam Victoria Beckham, sempre discreta e bem vestida.

O problema é que muita gente acha que a Posh Spice é inexpressiva, assim como tem a mesma errônea ideia sobre os gatos. Manter a sobriedade em público não significa ter coração de pedra. Para essa gente que acha que Victoria e os gatos não têm sentimentos, eu recomendo passar uns três dias aqui em casa vendo o que são felinos emotivos, dramáticos e sentimentais.

Amelie esbofeteia quem estiver no colo na hora em que ela resolve mamar. Ela “mama” no braço da gente até hoje e o “chega pra lá” da gata não é exatamente o que podemos chamar de sutil. Se ela quer o colo, senta o tabefe na orelha do gato que entrar no caminho.

Olivia tem quase o mesmo rompante emotivo do Bilbo, a diferença é que ela faz isso quando está a fim, e não toda vez que eu entro em casa. Só que ela gosta de pular no ombro, que nem papagaio, e esfregar as bochechas dela no nosso cabelo. Às vezes ela faz isso com quem mal conhece e assusta as visitas, que sempre acham que é um ataque.

Quando quer carinho, Olivia sobe na prateleira mais alta da cozinha e começa a fazer uma dancinha. Ela empina a bunda, abaixa a cabeça e esfrega as bochechas na prateleira. Toda essa coreografia de dançar na taça no Sabadão Sertanejo é um pedido de cafuné dos mais suplicantes. Mas não adianta puxar a gata da prateleira e pegar no colo, o carinho tem que ser recebido ali no alto, mesmo que para isso seja preciso subir na cadeira. Azar o seu que é baixinho.

Marvin tem um jeito ogro que não dá para resistir. É como se ele tivesse crescido rápido demais e não soubesse que virou um gato enorme. Quando quer cafuné, chega dando cabeçadas e fazendo a gente derrubar o que tem na mão. Depois, deita no colo e dorme tão pesado que, na hora que eu quero fazer xixi, penso se não é mais fácil cortar uma perna fora do que fazer o gato sair de cima de mim.

Já a Mia é tão sossegada e tranquila que o negócio dela é demonstrar amor dormindo de conchinha. E não tem travesseiro mais gostoso. Ela deixa abraçar, botar a cabeça no colo, e dorme de boa a noite toda. Só começa a gritar de manhã cedo, na hora sagrada da comida.

Gatos também demonstram amor amassando pãozinho. Quando o gato sobe em cima de você e começa a te pisotear, entenda: é massagem. E massagem é sinal de amor, porque não conheço ninguém que faça massagem em quem odeia, a menos que ganhe dinheiro para isso.

Se bater uma dúvida sobre as verdadeiras intenções do gato, chegue o ouvido mais perto e procure o barulhinho de motor. Se ele estiver fazendo um “brrrr” é porque está curtindo ficar perto de você. Gatos só ronronam quando estão felizes e relaxados.

Aliás, se o gato estiver encostando em você, já é um bom sinal. Gatos costumam ser reservados com estranhos. Amelie se esconde no fundo do armário, embaixo da pia, e só sai de lá quando a visita vai embora.

Gatos amam pra caramba. Amam loucamente. E demonstram isso à maneira deles. Se você acha que gatos são inexpressivos, vá lá trabalhar essa falta de sensibilidade e depois nós conversamos, ok.

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