Uma casa à prova de gatos

Eu sempre me perguntei que tipo de idiota precisava de um suporte para controle remoto no braço do sofá, daqueles com velcro e que você compra por telefone, depois de ver a propaganda na TV. Hoje sei que é justamente o idiota que tem gatos em casa.

Porque não me parecia fazer o menor sentido eu precisar comprar uma coisa para evitar que eu perdesse um objeto que mal sai do lugar. Era só manter o bendito no sofá e ali ele permaneceria para quando a novela acabar e eu precisar tirar correndo do jogo de futebol.

Mas então veio a Amélie, que sempre senta no controle da televisão em cima do power e no controle da Net em cima de algum botão que te leva para o Now, porque ela gosta de ver os lançamentos.

Depois vieram Mia e Olivia, enfim me ensinando a serventia do guardador de controles. Juntas, as três inventaram a brincadeira mais engraçada do mundo dos gatos de apartamento: arremesso de controle remoto. No chão, debaixo da mesa de centro, atrás do sofá. E riem de soslaio, da porta da cozinha, enquanto eu levanto as almofadas e arrasto o sofá procurando, apressada, esse tecnológico brinquedo de felinos.

Esse foi o recado divino do que eu precisava fazer. Mas eu, lerda que sou, só fui entender que é preciso adaptar a casa para a vida de gato quando Amélie resolveu fazer uma caçada noturna dentro do saco de lixo e me presentear com embalagens de frango enquanto eu dormia. Acordei coberta de lixo.

Depois disso vieram outros recados, como uma garrafa de azeite espatifada atrás do microondas e pequenas pegadas molhadas pelos lençóis, feitas por uma gata que gosta de tomar banho no box, que nem gente.

E foi assim, entre emocionantes e barulhentas surpresas, que o universo me ensinou que a casa tem que ser à prova dos felinos, seja pela segurança deles ou pela nossa tranquilidade. Perfumes, azeites e o que mais você tiver de vidro devem ficar dentro dos armários e guarda-roupas. O lixo precisa de uma lixeira. Qualquer móvel que você coloque embaixo de uma janela vai virar escada, então é melhor não usá-lo para apoiar os vasos chineses da dinastia Ming. Controles remotos e celulares são ótimos brinquedos, bem como os fios do roteador. E a vida fica mais tranquila se a televisão viver parafusada no rack. 

Não é difícil e nem precisa transformar o lar numa deprimente sala de banho e tosa. E, depois, a gente acaba gostando da sensação de chegar em casa sem morrer de medo do que vai encontrar por lá.